quinta-feira, 20 de junho de 2013

Como o novo guia da psiquiatria pode afetar você?

Como o novo guia da psiquiatria pode afetar você

O recente manual da Associação Americana de Psiquiatria gerou grandes discussões entre os experts sobre o que difere uma emoção normal de um transtorno. Mas, afinal,o que isso tem a ver com sua saúde?

 O mês de maio marca o lançamento da quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais, conhecido pela sua sigla em inglês: DSM-5. O documento, uma iniciativa da Associação Americana de Psiquiatria, reúne cerca de 300 distúrbios, todos com definições baseadas em sintomas detalhadíssimos. Uma análise simplista diria que, com descrições tão específicas sobre cada problema, o livro dispensaria a necessidade de um especialista — basta verificar se você se enquadra em determinada chateação e, aí, realizar o tratamento indicado. Até por isso, o guia vem sendo apelidado por muita gente de a bíblia dessa área da medicina.

“Mas, que fique claro, o DSM está longe de ser uma bíblia, e o simples fato de estarmo diante da sua quinta versão prova isso”, rebate o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. “Como nas edições anteriores, essa traz itens polêmicos que de forma alguma devem ser vistos como verdades absolutas no consultório médico”, alerta.

Sem dúvida, a diretriz está dando o que falar. O alvoroço gira ao redor da definição de novas doenças e do, digamos, afrouxamento de critérios para diagnosticar uma série de males. De um lado, críticos afirmam que essa postura deixará cada vez mais tênue a linha que diferencia uma emoção natural de uma patologia. “Se seguirmos o que está escrito no DSM-5, o luto se transformará em depressão, o esquecimento em comprometimento cognitivo leve, a birra das crianças em desregulagem perturbadora de humor, e por aí vai”, argumenta o psiquiatra Allen Frances, da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Há quem aponte inclusive que as alterações visam enriquecer empresas farmacêuticas — um estudo da Universidade de Massachusetts, também nos Estados Unidos, sugere que em torno de 70% dos profissionais diretamente envolvidos com a criação do manual estariam ligados a essas indústrias.

Na contramão, defensores da obra alegam que os ajustes e o maior número de enfermidades são fruto de artigos científicos sérios e da própria modernidade. Não dá para negar que a vida hoje em dia é diferente da de décadas atrás e, portanto, está sujeita a piripaques antes inexistentes ou pouco percebidos. “Fizemos mudanças conservadoras. O objetivo foi delinear com precisão desordens mentais que têm um impacto real nas pessoas, não elevar o número de diagnósticos”, garante David Kupfer, chefe da força-tarefa que elaborou o DSM-5.

“A psiquiatria americana saiu, muitos anos atrás, do extremo da subjetividade para aterrissar, hoje, no ápice da objetividade. E o DSM-5 reflete essa tendência”, raciocina Paulo Jannuzzi Cunha, neuropsicólogo do HC. O medo é que, ao se concentrar demais em sintomas e pouco na biografia do sujeito, os experts acabem receitando fármacos além da conta. “A maioria dessas drogas traz efeitos colaterais”, destaca Márcia Maria de Souza, farmacologista da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. “Certos antidepressivos, por exemplo, às vezes provocam problemas intestinais e cardiovasculares, sonolência, impotência...”, enumera.

Contudo, não é um livro que, sozinho, decide o futuro de alguém. “Ele dá uma base, porém é o acompanhamento do indivíduo ao longo do tempo que mais aumenta a chance de sucesso no diagnóstico e na terapia”, esclarece Antônio Egídio Nardi, psiquiatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ao sentir que precisa de ajuda, vá atrás de um bom médico e confie nas decisões dele, sem
pressioná-lo por resultados imediatos.


O nosso guia oficial
Nos Estados Unidos, o DSM-5, fora direcionar os clínicos, serve de base para as empresas de seguro de saúde cobrirem gastos médicos. Esse documento não tem tamanha força em território verde e amarelo. “As diretrizes seguidas pelas seguradoras e que mais influenciam na prática do psiquiatra no Brasil são as presentes na Classificação Internacional de Doenças, a CID, da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, diz Silva.


Como já mencionamos nesta reportagem, o DSM-5 define problemas mentais diversos de acordo com uma série de sintomas. “Entretanto, no futuro não vai ser assim”, aposta Jair Mari. “Acredito que descobriremos alterações visíveis no cérebro decorrentes de problemas mentais e, então, traçaremos os diagnósticos também a partir delas, apoiados em exames de imagem”, especula.

A alegação está longe de ser infundada, porque a neurociência traz cada vez mais detalhes sobre como a massa cinzenta funciona. “Acontece que nossa cabeça é muito complexa e revela seus segredos aos poucos. Essa revolução é excitante, mas temos um longo caminho pela frente antes que ela chegue aos consultórios médicos”, contextualiza Allen Frances. Está aí a razão pela qual o DSM-5 não abordou o tema dos exames de imagem, embora tenha, sim, ocorrido debate sobre ele durante sua feitura.

Mas — olha que curioso — há uma seção inteira apenas sobre condições a serem estudadas a partir de agora para eventualmente conquistarem sua vaga definitiva em uma edição atualizada. “Trata-se de um documento vivo, e isso é bastante favorável”, diz Antonio Geraldo da Silva. Entre as moléstias colocadas no limbo está o vício por jogos de internet (veja na tabela à direita essa e outras pendências abordadas). “Isso mostra como o DSM-5 não pode ser a única fonte de referência de um psiquiatra”, declara Silva. “Se um paciente chegar ao meu consultório com indícios de não conseguir parar de mexer no computador, eu não esperarei a nova versão desse manual para intervir”, arremata.


Em outras palavras, o foco de todos precisa mirar a busca pelo bem-estar. Dessa maneira, os especialistas tirarão o melhor de qualquer manual — em vez de encará-los como uma tábua de mandamentos — e você assegura a paz com sua mente e suas emoções.

Males que talvez sejam incluídos na próxima edição do DSM 
Síndrome atenuada da psicose: seria um estágio anterior do transtorno. Tratar cedo evitaria os surtos. Será?
Automutilação não Suicida: há evidências do quadro, porém o assunto carece de pesquisas.

Desordem do uso de jogos na internet: como se trata de uma encrenca relativamente recente, optou-se por estudar mais sobre ela.

Acompanhe as próximas postagens de continuação. Serão 05 assuntos. (Compulsão Alimentar, Sexo, TDAH, TOC, Simples Esquecimento?) 
Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0364/medicina/novo-guia-psiquiatria-744265.shtml

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