Temos um grave problema: a saúde pública brasileira sofreu um desmantelo. Foi com essa frase que o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina, começou a opinar sobre a política nacional de saúde mental, em entrevista ontem à TV JC.
Para ele, o acesso a um atendimento psiquiátrico de qualidade praticamente não existe em alguns lugares do País. E lamentavelmente o preconceito contra as pessoas que convivem com transtorno mental, como depressão e esquizofrenia, ainda perdura, inclusive na rede pública de assistência à saúde.
“Precisamos acompanhar as pessoas sem quebrar a rede social da qual elas fazem parte. É preciso atendê-las no bairro onde vivem. O que é mais simples para isso? Colocar uma equipe de saúde mental (psicólogo, psiquiatra e assistente social) nos postos de saúde. Por que alimentar a psicofobia (atitudes discriminatórias contra pessoas com transtornos mentais) ao criar um serviço específico, que são os Caps (Centros de Atenção Psicossocial), para esse paciente?”, questiona Antônio Geraldo.
“O mais difícil é achar alguém para conversar. Eu só queria conversar. Mas é muito difícil encontrar uma pessoa que entenda o que estou passando, que não é uma questão de querer sair desse estado, de ir viver a vida. É uma questão de querer, mas não conseguir fazer isso.” O desabafo é da gaúcha Andressa Silva Montenegro, moradora de Porto Alegre. Nos últimos dezenove anos, Andressa, que tem apenas 27 anos, vive diariamente sob o peso da depressão. O que ela diz no relato acima é o que todos os pacientes falam ou desejam falar, mas quase ninguém escuta. Depressão é doença, e não falta de vontade, caráter ou fraqueza. E, infelizmente, trata-se de uma enfermidade que cresce no Brasil. Um relatório recente da Organização Mundial de Saúde revelou que o País é o primeiro em número de casos na América Latina e o quinto no ranking mundial. Cerca de 11,5 milhões de pessoas por aqui são depressivas.
São várias as razões que situam o País entre os primeiros colocados nas taxas de incidência. Primeiro, a única que pode ser considerada positiva: o diagnóstico hoje é mais fácil do que anos atrás. Todos os outros motivos têm raiz em boa parte no ambiente estressante que os brasileiros vivem há décadas. “O estresse é um dos gatilhos para o desencadeamento da depressão”, afirma o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, diretor do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O problema recrudesceu nos últimos anos com o agravamento das crises política e econômica, fazendo aumentar a procura por ajuda. “Logo no início de seu relatório, a OMS pontua que o sofrimento com perdas é um dos fatores que levam à depressão”, explica o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva, presidente eleito da Associação dos Psiquiatras da América Latina e diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria. “Tivemos muitas perdas, decepções com líderes nos quais muito acreditavam, queda na renda financeira. Tudo isso contribuiu para o aumento no total de casos no Brasil.”
“Tivemos muitas perdas, como a queda na renda financeira. Isso contribuiu para o aumento no total de casos no Brasil” Antonio Geraldo da Silva, psiquiatra, presidente eleito da Associação dos Psiquiatras da América Latina
Como a maioria das doenças, depressão tem tratamento. O grande problema, evidenciado nas palavras de Andressa, é o entendimento equivocado de que ela não passa de um estado de ânimo derivado de uma personalidade fraca ou preguiçosa. Esse erro seminal faz com que a luta do paciente seja ainda mais dura do que ela já é. Em vez de uma batalha, ele enfrenta várias. A primeira começa dentro dele mesmo, que também não entende ou não aceita sentir uma tristeza que não tem fim, uma apatia e uma falta de prazer na vida que em muitas casos tiram dele até a vontade de viver. “Tinha muita dificuldade de aceitar. E não achava coragem de falar no assunto com ninguém”, conta a arquiteta Isabela Soares, 42 anos, de São Paulo, ao lembrar-se de quando começou a perceber os primeiros sintomas, há pouco mais de um ano.
GENÉTICA E AMBIENTE
A resistência fica maior ainda quando a doença se instala em vidas assentadas como a de Isabela, com filho, marido, amigos. O questionamento sobre o por quê de tanta tristeza ganha um tamanho enorme. É preciso ficar claro que os sintomas são derivados de um desequilíbrio concreto entre substâncias cerebrais que mediam o humor e as emoções. Ele ocorre por uma combinação entre predisposição genética e ambiente. Os antidepressivos corrigem as diferenças fisiológicas e a psicoterapia atua nas questões psicológicas envolvidas.
O cenário em todo o mundo, no entanto, é o da desinformação. Não é à toa que grupos como o de Apoio às Pessoas com Depressão, de Niterói, ainda acolhem tanta gente em busca de explicações para o que sentem. “Muitas pessoas chegam sem ter ideia do que está acontecendo”, diz o psicanalista Lenilson Ferreira, fundador da iniciativa.
Depois de lidar com a própria angústia, o paciente tem que se ver com o preconceito de quem está do lado. Pode ser o marido, a esposa, o amigo. Desde que resolveu falar abertamente que tinha depressão, Isabela vem recebendo os relatos de gente que enfrenta o mesmo problema, mas sem a solidariedade dos mais próximos. “Ouço muita gente dizer que não tem o apoio dos familiares, por exemplo.”
A ARQUITETURA CEREBRAL DA DEPRESSÃO
Uma pesquisa divulgada na semana passada mostrou pela primeira vez que a depressão modifica a arquitetura cerebral, mas os antidepressivos revertem as alterações. A região atingida é o córtex cerebral, a matéria cinza na superfície do cérebro na qual está contida a maior parte das células nervosas do corpo e onde ocorre o maior número de conexões entre os neurônios.
O trabalho foi feito no Hospital da Criança de Los Angeles, nos EUA. Análises de imagens cerebrais obtidas de 80 voluntários (41 depressivos) mostraram que a doença aumenta a espessura da área. E quanto mais espessa, maior a severidade dos sintomas. Os remédios retardam esse processo, o que revela que atuam em outros mecanismos além dos conhecidos (sobre substâncias cerebrais associadas ao humor).
Os novos elementos no conhecimento sobre a enfermidade servirão de base para tratamentos diferentes dos atuais. “A capacidade de o cérebro se readaptar a partir dos remédios será mais um alvo a ser trabalhado”, disse à ISTOÉ Bradley Peterson, um dos autores do estudo. “Podemos pensar em outros medicamentos, estimulação eletrofisiológica ou intervenções comportamentais e psicológicas capazes de agir sobre isso.”
A gaúcha Andressa viveu tudo isso e ainda enfrentou outro obstáculo muito comum na vida dos pacientes: a mistura de pouca informação e preconceito por parte de profissionais de saúde que, por dever de ofício, deveriam, primeiro, saber identificar uma doença. Segundo, respeitar a pessoa que estão atendendo. Na primeira crise mais grave, sem ânimo para coisas básicas como tomar banho ou levantar-se da cama, ela ouviu da médica que a atendeu que deveria fazer exercício físico, tomar umas vitaminas e se esforçar. A médica simplesmente não tinha ideia do que estava falando. Em depressão, não se trata de “se esforçar”. O doente não faz porque não consegue.
Sem diagnóstico, Andressa não obteve atestado médico. Sem o documento, não justificou as faltas no trabalho. Terminou despedida por justa causa. À primeira experiência sucederam-se outras, igualmente traumáticas e humilhantes. Envolveram psiquiatras, gastroenterologistas (ela teve muita dor de estômago), peritos escalados para analisar seu caso em seus pedidos de licença remunerada. O que mais ouviu foi que tinha que ter força de vontade e ir trabalhar. Andressa só conseguiu o pagamento depois de entrar na Justiça.
Uma rede de atendimento pouco acolhedora deixa sem tratamento uma imensidão de pacientes. Segundo dados da OMS, em muitos países menos de 10% das pessoas recebem medicação e orientação psicoterápica. A maioria restante sofre em silêncio, tem suas vidas suspensas e luta praticamente sozinha para não ceder aos pensamentos suicidas que vêm e vão. “No Brasil acontece um suicídio a cada 45 minutos”, informa o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva. “Cerca de 38% deles têm por trás a depressão.”
O cenário mostra que há muito o que fazer para acabar com esse enredo, deixando no passado tragédias como a que vitimou a família do pequeno Pedro Luiz Ramos Nunes recentemente. O garoto morava com os pais, Fábio, 36 anos, e Thaise, 33 anos, em São Paulo. Aos cinco anos, ele foi morto pelo pai, em surto depressivo. Sem tratamento, Fábio matou o filho e a mulher e depois se matou.
A MENTE SOFRE
Segundo a OMS
• 322 milhões de pessoas no mundo têm depressão, a maioria mulheres
• No Brasil, são 11,5 milhões de indivíduos, o que equivale a 5,8% da população
• Entre 2005 e 2015, houve um aumento de 18% no total de casos no planeta
• A doença hoje é a principal causa de incapacidade
• Pode levar ao suicídio
• Menos de 10% dos pacientes recebem tratamento
Alguns sinais
• Cansaço que não passa
• Apatia
• Falta de prazer em atividades antes prazerosas
• distúrbios de sono (dormir muito ou pouco)
• dificuldade de concentração
• ideias suicidas
Há três graus:
1. Leve
A pessoa apresenta alguma dificuldade para atividades cotidianas, mas sem prejuízo na vida profissional e social
2. Moderado
Há maior impedimento para a execução de ações rotineiras, como trabalho ou convívio social
3. Grave
O paciente não consegue mais desempenhar suas ações sociais, profissionais ou domésticas
Fonte: http://istoe.com.br/muitas-batalhas-contra-depressao/ e http://www.paraiba.com.br/2017/03/12/59815-as-muitas-batalhas-contra-a-depressao
A Síndrome de Burnout, também conhecida como a síndrome do esgotamento profissional, um distúrbio psíquico, foi descoberta no Brasil, em 1974, pelo médico psicanalista, Herbert Freudenberger, que descreveu o fenômeno como um sentimento de fracasso e exaustão causado pelo acúmulo de estresse no trabalho. O próprio termo “burnout” demonstra que esse desgaste danifica aspectos físicos e psicológicos da pessoa. Traduzindo do inglês, “burn” quer dizer queima e “out” significa exterior.
A doença é muito comum em profissionais que trabalham diariamente sob pressão e com responsabilidade constante, como os médicos, enfermeiros, policiais, jornalistas, dentre outros.
Um relatório feito pelo Medscape Physician Lifestyle Report 2015, contou com 20 mil entrevistas e concluiu que 46% dos médicos dos Estados Unidos têm a Síndrome. Os médicos mais jovens são os que apresentam maiores níveis de exaustão emocional e perda de realização profissional. Carga horária muito elevada é uma das justificativas.
Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe (SE) indicou altos níveis de estresse emocional em profissionais da Saúde que atuam em Unidades de Terapias Intensivas (UTI) .
Cerca de 46% dos médicos dos Estados Unidos têm a Síndrome Burnout
Sintomas
Há vários sintomas, que, em fase inicial, até se confundem com a depressão. Por isso, é importante e necessário um diagnóstico detalhado. A principal característica é o esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes negativas, como ausências no trabalho, falta de sono, pensamentos ruminantes que não permitem conciliar o sono, acordar com a sensação de cansaço de como se o sono não tivesse sido reparador, como se não tivesse dormido.
Diagnóstico
Dr Antônio Geraldo da Silva é diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria e secretário da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), e alerta que o ideal, em casos de Burnout, é que a pessoa seja afastada do trabalho e passe por um tratamento multidisciplinar, com psiquiatra e psicólogo. “Medicamentos que atuam com a serotonina costumam ter boa eficácia nesse tipo de tratamento”, reforça.
De acordo com a psicóloga, Mayara Paiva Palazzo, ‘‘A síndrome de Burnout tem sido cada vez mais notada com o tempo. Os sintomas estão cada vez mais aparentes. Além de uma constante terapia e medicamentos (caso tenha sintomas depressivos), a atividade física diária tem possibilitado uma melhor qualidade de vida a essas pessoas. Em alguns casos em que a pessoa, de forma alguma, muda seu estilo de vida profissional, ela cria uma rotina pesada, que acaba refletindo no seu corpo, com dores corporais intensas e pesares diários, como estresse, insônia, ansiedade e muitos outros. A ajuda psicológica é indispensável,” alertou.
Hábitos
Além do acompanhamento médico com terapia e medicamentos, é necessária ainda uma mudança no estilo de vida. A atividade física regular e os exercícios de relaxamento devem fazer parte da rotina, pois ajudam a controlar os sintomas.
Lei
Portaria nº 1.339 de 18 de novembro de 1999, do Ministério da Saúde, que instituiu a lista de doenças relacionadas ao Trabalho, incluiu a Síndrome de Burnout, nos transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho, com isso o trabalhador tem seus benefícios previdenciários.
Fonte: FENAM, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe, revista superinteressante, Drauzio Varela, Canção nova : http://fenam.org.br/noticia/6707
O Dr Antônio Geraldo é presidente do Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo.
Médico Psiquiatra - CRMDF-5875.
Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. Tesoureiro da Associação Psiquiatrica de Brasília.
Diretor da Associação Médica de Brasília. AMBr/ AMB.
Diretor Adjunto do SINDMÉDICO / FENAM - DF.
Professor da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES.