quarta-feira, 17 de março de 2010

Encontro de Psiquiatria

segunda-feira, 8 de março de 2010

Feliz dia Internacional da Mulher!

Esquizofrênicos conquistam autonomia

Trabalhar, passear, viajar, namorar. Pode parecer impossível que uma pessoa portadora de um transtorno mental possa fazer todas estas atividades. Mas não é. Com os avanços nos remédios e tratamentos, é possível reintegrá-los na sociedade. É isto que está acontecendo com os pacientes com esquizofrenia, apesar de ser uma doença crônica. O motorista Renato (nome fictício), de 31 anos, leva uma vida simplesmente normal. Trabalha, mora sozinho, namora há cinco anos e visita a família constantemente. Vivendo dessa maneira, ninguém deduz que ele tem esquizofrenia.
A doença foi descoberta aos 15 anos, quando Renato pensava que estava conversando com uma vizinha por telepatia. Em um primeiro momento, ele foi se consultar com um neurocirurgião e parou até por uma parapsicóloga. Mas o diagnóstico feito por um médico psiquiatra foi esquizofrenia. “Não deixei de viver por causa da doença. Contei com o apoio da minha família. A minha namorada sabe disso e me acompanha sempre que é necessário. O apoio e fé em Deus são muito importantes”, afirma Renato. Devido a este apoio, ele aderiu ao tratamento. A permanência de pessoas como Renato na sociedade é um dos grandes desafios quando se fala de esquizofrenia, pois ainda há um estigma muito forte sobre a doença mental. Tanto que Renato não quis ser identificado nesta reportagem.
Os tratamentos, os remédios e o próprio conhecimento sobre a doença já avançaram muito, mas o preconceito exerce uma pressão enorme na sociedade. “A doença é crônica, mas não é como a gente achava antigamente, que tinha pouca coisa a fazer. O maior conhecimento sobre a esquizofrenia, aliado à modernidade dos medicamentos e dos tratamentos, permite que os esquizofrênicos sejam ativos na sociedade”, explica o médico psiquiatra Dagoberto Hungria Requião, diretor geral do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, em Curitiba.
De acordo com ele, o estigma só será vencido com a informação. É preciso discutir todos os aspectos da doença com a família e o próprio paciente. Alguns profissionais ainda relutam em dizer para o doente a sua condição. “Mas a partir do momento que o paciente e a família estão bem informadas, a aceitação é maior e a adesão ao tratamento também”, indica Requião.
O hospital já não é mais o destino certo para os esquizofrênicos. Em muitas situações, as internações já são dispensadas. “Antes, o tempo de internação era enorme, superior a um ano. Hoje, os casos mais necessitados são tratados em até 40 dias no hospital. Depois, os pacientes voltam para a família”, conta Requião.
Ainda existem casos de pacientes internados há anos em hospitais. Aos poucos, eles estão sendo levados para o convívio em sociedade. No Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, os tratamentos já começam a trabalhar a ressocialização ainda na fase de internamento. Os pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar e isso ajuda-os a restabelecer as relações interpessoais.
Um dos projetos para a reintegração destes pacientes, muitos deles abandonados pela família, é a residência terapêutica. Em parceria com a Prefeitura de Curitiba, o hospital aluga um imóvel para os pacientes, que escolhem tudo o que vão colocar dentro da casa. Cada residência abriga entre seis e oito moradores. O programa, iniciado há três anos, conta com cinco residências. “São pacientes que não deveriam mais estar em hospitais. Alguns nem tomam mais medicamentos”, considera Requião.
Um ano antes de se mudarem, os pacientes são treinados para resgatar a cidadania, pois ficaram décadas dentro do hospital. Eles aprendem a se locomover pela cidade, saem para fazer compras no supermercado, por exemplo. Isto permite a autonomia dos esquizofrênicos. “O que se gastava na diária destes pacientes nos hospitais, se investe na manutenção das residências”, revela Requião.
Transtorno afeta 1% da população mundial
A esquizofrenia é um dos transtornos mais graves na psiquiatria, e afeta 1% da população. A doença normalmente aparece no final da adolescência e início da fase adulta. Os pais devem ficar em alerta quando os filhos têm queda no desempenho escolar, evitam sair de casa e sempre estão desconfiados. Os sintomas da esquizofrenia são divididos em positivos, negativos e cognitivos, segundo o médico psiquiatra Salmo Zugman, coordenador do laboratório de esquizofrenia do Hospital de Clínicas (HC). Para entender um pouco sobre a doença, basta assistir ao filme Uma mente brilhante.
Os sintomas positivos chamam mais atenção dos familiares e amigos. São caracterizados por alucinações auditivas, visuais, táteis e olfativas. A doença mexe com o senso e a percepção da pessoa. Informações que surgem no interior do paciente são encaradas como realidade. Os sintomas positivos ainda abrangem os delírios e o sentimento de perseguição.
Os sintomas negativos são menos chamativos e podem ser confundidos com depressão ou efeitos de remédios. Apesar disso, continuam sendo sintomas graves, que trazem muitos prejuízos para os esquizofrênicos. Os sintomas negativos compreendem a diminuição da integração social, a falta de vontade, apatia, empobrecimento mental, raciocínios superficiais. “Os sintomas são independentes um do outro. Às vezes, um tipo de sintoma se sobressai. Outras, um sintoma melhora e outro não”, explica Zugman. Os sintomas cognitivos estão relacionados com a dificuldade com pensamentos abstratos, dispersão, dificuldade em gerenciar diferentes estímulos.
De acordo com o médico, geralmente acontecem manifestações leves de sintomas negativos e cognitivos antes do aparecimento dos sintomas positivos. “As pessoas vão aceitando e não procuram ajuda. A procura acontece quando há sinais evidentes”, afirma.
Saúde pública
Os pacientes de transtornos mentais, entre eles a esquizofrenia, têm dificuldades em conseguir tratamento na rede pública de saúde. Segundo o médico psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, o acesso já é ruim para os doentes mentais, mas piora nos casos dos esquizofrênicos. “O paciente com esquizofrenia precisa ter um controle mensal, ter um medicamento diário para o resto da vida. Quando enfrenta uma fase aguda, ele precisa de um tratamento especial. E no SUS é preciso esperar meses para marcar uma consulta”, critica.
Fonte: http://www.parana-online.com.br

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