quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"Tchau, drogado, volta amanhã"


"Tchau, drogado, volta amanhã"

Até a presidente Dilma parece insatisfeita com o atendimento pífio que o Brasil dá aos dependentes de álcool e drogas. Por que insistir no fracasso?

Afirmar isso ou aquilo sobre o comportamento e a personalidade da presidente Dilma é arriscado. Até os iniciados no mundo da política (o que não é, absolutamente, o meu caso) sofrem para detectar quais são os traços autênticos de Dilma. Dizem que ela é austera. Dizem que tem pavio curto. Dizem que não economiza nas broncas.

Uma amostra das descomposturas que a presidente estaria passando nos ministros e nos colaboradores foi relatada pela jornalista Vera Magalhães na interessante reportagem publicada no domingo (13/11) pelo jornal Folha de S. Paulo. O que mais chamou minha atenção foi o seguinte trecho:
“A presidente comandava uma reunião com representantes de vários ministérios para discutir o lançamento de uma política de saúde para pessoas com deficiências. Quando um funcionário do Ministério da Saúde sugeriu uma sigla para identificar a nova política, Dilma cortou:

-- O quê? Você está me sugerindo mais uma sigla? Você sabe quantas siglas tem no Ministério da Saúde? – e se pôs a enumerar várias delas. Ao citar os CAPs-AD (Centros de Atenção Psicossocial Antidrogas), voltou-se para um ministro ao seu lado:

-- Você sabia que os CAPs-AD fecham às 18h? Você chega para o drogado e fala: “Drogado, são 18h. Tchau, drogado, volta amanhã!”

Finalmente alguém no governo federal parece ter percebido o absurdo que é a estrutura de atendimento aos dependentes de álcool e drogas no Brasil. Eles e suas famílias não são os únicos afetados. Toda a sociedade sofre. A política de saúde mental do Ministério da Saúde tem sérios problemas. O principal é estar baseada muito mais em ideologia e preconceito do que em medicina.

Se quem percebeu que o serviço está mal feito foi justamente quem manda na casa, a notícia é ótima. Pode ser um sinal de que as coisas finalmente podem começar a mudar. Para melhor.

Quem tem na família um dependente químico (de drogas ou álcool) ou um doente com depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo e outros problemas psiquiátricos sabe que essa estrutura de atendimento baseada nos CAPS não dá conta do problema. Por mais bem intencionados que os defensores desse modelo sejam.

A história é antiga. No final dos anos 80 ganhou força no Brasil um movimento chamado de luta antimanicomial ou de reforma psiquiátrica. Pregava a extinção dos manicômios, nos quais os pacientes eram abandonados, maltratados e submetidos a situações degradantes.

Ninguém pretende que esses horríveis depósitos de gente renasçam no Brasil. Mas é preciso reconhecer que dependentes de álcool e drogas e doentes psiquiátricos em estado grave podem precisar de internação. Os doentes (independentemente de sua condição social) merecem uma internação em hospital adequado, com atendimento psiquiátrico eficaz e a dignidade que todo sofredor merece.

As famílias dos pacientes enfrentam hoje uma enorme dificuldade para internar quem precisa. O poeta Ferreira Gullar, que teve dois filhos esquizofrênicos, denunciou a situação numa reportagem que foi capa de ÉPOCA.

Desde 1989, cerca de 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. O Ministério da Saúde investiu nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Quando a situação do paciente complica, no entanto, os familiares não conseguem vaga num leito psiquiátrico em hospitais comuns.

Vários municípios discutem a internação compulsória de dependentes de crack, uma polêmica muito bem retratada pelos colegas Mariana Sanches, Matheus Paggi e Eduardo Zanelato nesta outra reportagem de capa. A pergunta que não quer calar é “internar onde?”

Em meio a uma verdadeira epidemia de crack, o Brasil dispõe de apenas 268 centros de atendimento de casos de álcool e drogas (CAPS-Ad). Eles funcionam apenas até as 18 horas. Só de segunda a sexta-feira.

O país inteiro tem apenas três (!!!) centros 24 horas, segundo o Ministério da Saúde. Um em Petrópolis (RJ) e dois em São Bernardo do Campo (SP). Pelo sistema de atendimento vigente no Brasil é preciso surtar em horário comercial. Não sei se a bronca de Dilma foi dirigida à pessoa certa, mas foi merecida.
O mais estranho nessa história toda é que o Ministério da Saúde parece não estar interessado em ouvir os psiquiatras. Procurei vários deles, a maioria especialista no tratamento de dependentes de álcool e drogas, para saber como receberam o comentário da presidente.

“A Dilma é muito inteligente. Se o problema chega até a presidente, ela consegue dar resolução”, afirma Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. “O problema é que ela está muito mal assessorada na área de saúde mental. Nos colocamos à disposição do Ministério da Saúde para ajudar a repensar o sistema e não fomos ouvidos”, diz.

CAPS são úteis, mas não podem ser o único recurso disponível. Sozinhos, esses centros não têm competência para prestar assistência adequada aos doentes. Fechar leitos psiquiátricos e abrir mais CAPS não resolve o problema. Sem nenhum demérito às equipes multiprofissionais que trabalham neles, esses centros deveriam ser recursos complementares. Por que o governo insiste no erro?

“Por um infantil viés ideológico, quem defende o modelo atual acredita que as dependências químicas são uma construção social e os dependentes são vítimas da injustiça social”, diz Marco Antonio Bessa, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatra.

Na prática, a atual orientação da política de saúde mental brasileira sataniza a psiquiatria. Parte do pressuposto de que todos os psiquiatras estão mancomunados com a indústria farmacêutica e nega os avanços que essa área da medicina trouxe para a compreensão e tratamento de tantos males e aflições.

É claro que existem maus profissionais na psiquiatra -- como em qualquer outra área do conhecimento e do mercado de trabalho. É claro que a indústria tem interesses comerciais e seduz os médicos, a imprensa e o público. É claro que há exagero no diagnóstico e na medicação de “doenças” que, muitas vezes, são apenas a expressão de comportamentos fora do padrão esperado pela sociedade. Tudo isso existe e é grave.

O problema é o radicalismo. Negar os benefícios que a psiquiatria trouxe nas últimas décadas é tão grave quanto medicar e internar quem não precisa.

Diante da crise aberta pela dependência de drogas, o governo e a sociedade precisam ouvir os psiquiatras – mesmo que seja para discordar deles.

“Às vezes fico pensando que em breve as internações em UTIs, os choques para ressuscitação e as radioterapias também serão vistos como ações arbitrárias e violentas dos médicos – esses lacaios do biopoder a serviço da opressão e da exploração da humanidade”, diz Bessa.

O professor Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acha que a presidente precisa se informar melhor. “Se ela soubesse da missa a metade, ficaria ainda mais preocupada”, diz. “Até hoje o Ministério da Saúde não tem uma política assistencial em relação ao tratamento do crack. Nem mesmo para o alcoolismo existe um mínimo de padronização do que se deveria fazer”.

Segundo Laranjeira, os CAPS-Ad são caros e ineficientes. Cada centro custa, em média, R$ 200 mil. “Nunca conheci um CAPS que faça mais de mil atendimentos por mês. Portanto, cada consulta custa ao redor de R$ 200. A adesão ao tratamento é muito baixa e a eficácia do tratamento é absurda”, afirma.

Não se tem notícia de que algum dia o Ministério da Saúde tenha realizado uma avaliação de custo-benefício nesses locais. “Se fizesse, 90% deles teriam de ser fechados”.
Há quem acredite que na gestão Dilma a política vigente sobre drogas finalmente começa a ser questionada. Essa é a opinião de Analice Gigliotti, vice-presidente da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro. “O comentário da presidente é absolutamente pertinente. Um dependente de drogas não escolhe a hora de querer se tratar. Não escolhe a hora de precisar de tratamento. Se pudesse escolher, não seria um dependente de drogas”.

Em vez de promover a abstinência de drogas, o objetivo dos CAPS-Ad é reduzir o consumo. É a ideia da redução de danos. “Isso é inadequado porque são muito poucos os dependentes que conseguem reduzir o uso. Eles voltam a usar drogas na mesma quantidade que usavam antes. Basta ver o que acontece com os fumantes que tentam reduzir a quantidade de cigarros. Não funciona”, diz Analice.

Durante três dias, tentei entrevistar um representante do Ministério da Saúde. Ninguém me atendeu. O governo sabe que a coisa vai mal. É bom saber que a presidenta também tomou consciência disso. Talvez esse seja o momento de reformar o que precisa ser reformado. Estou convencida de que não é a psiquiatria.

E você? O que acha do atendimento aos dependentes de álcool e drogas no Brasil? E do tratamento de doenças psiquiátricas? Gostou da bronca da presidente Dilma? Conte pra gente. Queremos ouvir a sua opinião.
CRISTIANE SEGATTO


Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato é:  cristianes@edglobo.com.br.

Época

http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/noticia/2011/11/tchau-drogado-volta-amanha.html

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Senado aprova projeto que exige teor ZERO DE ÁLCOOL para motoristas

Senado aprova projeto que exige teor ZERO DE ÁLCOOL para motoristas


Senado aumenta para 16 anos de prisão a pena para quem dirigir embriagado. É o que determina projeto do senador Ricardo Ferraço, do PMDB, do Espírito Santo aprovado hoje pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A proposta modifica o Código de Trânsito Brasileiro para facilitar a punição e admitir novos indícios contra os infratores. O projeto torna crime a condução de veículos sob influência de “qualquer concentração de álcool ou substância psicoativa”, ou seja, a tolerância passa a ser zero com motoristas alcoolizados. Hoje, é permitido dirigir com até 6 decigramas de álcool por litro de sangue.Assim, além do teste do bafômetro, também passam a valer outras provas como vídeos, testemunhas e sinais de embriaguez. Duas decisões recentes, do Instituto Nacional do Seguro Social e do Supremo Tribunal Federal, apertaram o cerco contra quem dirige embriagado. O INSS passou a processar quem causa acidentes que resultem em indenizações para vítimas ou familiares. Já o Supremo considerou constitucional a Lei Seca, aprovada pelo Congresso há três anos, e decidiu que o motorista alcoolizado comete um crime, mesmo que não cause um acidente. Para o senador Ricardo Ferraço , o objetivo é acabar com a impunidade:

“É uma vitória da sociedade e uma maneira de acabar com o sentimento de impunidade que passou a vigorar depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou que ninguém é obrigado a fornecer prova contra si, numa referência ao bafômetro.A Lei Seca reduziu a quantidade de acidentes no Brasil, mas o entendimento do STJ trouxe de volta o sentimento de impunidade, uma vez que desobrigou os motoristas de soprarem o bafômetro. Com o novo texto da Lei, ficam criadas outras formas de incriminar os motoristas que dirigirem embriagados, assim como aumenta as penalidades da lei. As pessoas terão de pensar duas vezes antes de dirigir embriagadas.”

Os senadores lembraram, durante a votação, que vários motoristas se recusam a fazer o teste do bafômetro alegando que não são obrigados a produzir provas contra eles mesmos, o que tornou a Lei Seca de pouco efeito. O projeto aprovado na CCJ, que torna a Lei Seca mais rigorosa, vai ser encaminhado para a Câmara dos Deputados.



VAMOS REPETIR: EM 7 DE NOVEMBRO, O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, ANTONIO GERALDO DA SILVA, DEFENDEU EXATAMENTE O QUE APROVARAM OS SENADORES HOJE:

“Para motoristas, a quantidade aceitável de álcool é zero, sem negociação ou índices mínimos.”

Foi em artigo publicado neste BLOG e no site da ABEAD-Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas. Escreveu o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria:

“Para motoristas, a quantidade aceitável de álcool é zero, sem negociação ou índices mínimos. Como entidade que pode e deve influenciar as políticas públicas de saúde, precisamos nos posicionar contra medidas como o patrocínio da indústria do álcool a atividades esportivas e eventos que reúnam jovens. Devemos exigir que as leis atuais que determinam a proibição de venda de bebidas alcoólicas em estádios de futebol sejam mantidas, mesmo que isso contrarie a posição da FIFA para a Copa do Mundo de 2014.”

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Combate ao 'bullying' pode desestimular violência nas escolas

BRASÍLIA - O combate ao bullying pode ser um passo fundamental para enfrentamento da violência escolar. O tema foi discutido nesta segunda-feira na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) promete lançar uma campanha nacional contra o mal, além de recomendar a criação de comitês anti-bullying nas escolas. A Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPB) identifica o bullying como uma epidemia grave em avanço no mundo;
- Esta violência se dirige, especialmente, contra aqueles que ocupam lugar de autoridade, como os professores e, também, contra os que estão em uma situação de fragilidade [estudantes] - afirmou o presidente da SPB, Luciano Wagner Guimarães Lírio.

Apesar de considerar o conflito como algo inerente à condição humana, o psicanalista creditou a incapacidade de muitas crianças e jovens em lidar com a autoridade e frustrações pessoais à desestruturação familiar. E alertou ainda para o impulso que as drogas costumam dar a uma atitude transgressora, "sintoma mais marcante da sociedade atual".

Cultura de paz
Ao mesmo tempo em que também vê professores e alunos como alvos de bullying, o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, os convoca a denunciar essas agressões e a disseminar uma cultura de paz nas escolas.

O psiquiatra citou distúrbios mentais que podem estar associados a esse tipo de violência, como depressão, anorexia, transtornos bipolar e de déficit de atenção, e observou que a comunidade escolar precisa não só estar apta a identificá-los, mas saber também para onde encaminhar esses casos.
- É muita gente doente sem tratamento adequado. Vivemos um problema de desassistência psiquiátrica no país. É preciso identificar os transtornos de conduta que levam ao uso de drogas e a um comportamento antissocial - sustentou Antonio Geraldo.

Ainda sobre a questão de entorpecentes, o presidente da ABP defendeu uma maior taxação e controle na produção e venda de insumos legais usados na produção de cocaína e "crack". Após afirmar a posição da entidade totalmente contrária à liberação das drogas no país, convidou o presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), a ser padrinho da campanha "craque que é craque não usa crack", a ser lançada em seminário nacional sobre o assunto, marcado para novembro, no Rio de Janeiro


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/combate-ao-bullying-pode-desestimular-violencia-nas-escolas-2794516#ixzz1dhpIJVIu
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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Como chegar ao Mix Park Sul

Via W5 Sul - 910 sul.
SGAS 910, Ed Mix Park Sul, Bloco E, salas 134/136
Em frente o HCB - Hospital das Clínicas de Brasília
Click na foto para ver melhor...

“Para motoristas, a quantidade aceitável de álcool é zero”, afirma ABP

Decisão do Supremo Tribunal Federal que define como crime dirigir embriagado, “mesmo que não provoque risco a outra pessoa” é elogiada pela Associação Brasileira de Psiquiatria. “ A decisão da Suprema Corte brasileira se alia à posição da ABP, que é contrária ao uso de álcool por motoristas e vai mais além, critica as campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas. Não podemos aceitar que a sociedade seja bombardeada com imagens ilusórias e que não mostram os reais perigos do consumo de bebidas, seja para o organismo da pessoa, seja como protagonista de acidentes de trânsito”, escreve o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, em artigo publicado no site da ABEAD-Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas.

“Para motoristas, a quantidade aceitável de álcool é zero, sem negociação ou índices mínimos. Como entidade que pode e deve influenciar as políticas públicas de saúde, precisamos nos posicionar contra medidas como o patrocínio da indústria do álcool a atividades esportivas e eventos que reúnam jovens. Devemos exigir que as leis atuais que determinam a proibição de venda de bebidas alcoólicas em estádios de futebol sejam mantidas, mesmo que isso contrarie a posição da FIFA para a Copa do Mundo de 2014.”

A ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria-é uma entidade sem fins lucrativos.Reúne 5.500 associados, congrega 55 federadas, seis núcleos e 14 departamentos em todos os Estados da Federação.

Leia a íntegra do artigo no site da ABEAD
http://www.abead.com.br/

Fonte: http://blogs.jovempan.uol.com.br/campanha/para-motoristas-a-quantidade-aceitavel-de-alcool-e-zero-afirma-associacao-medica/ 

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