terça-feira, 8 de abril de 2014

Crianças, Adolescentes e a Psiquiatria

Antonio Geraldo da Silva e Francisco Assumpção:
Crianças, adolescentes e a psiquiatria

Ao longo do século 20, as sociedades atribuíram às crianças e adolescentes uma relevância social que elas não tinham até então.

Os últimos 30 anos, especialmente, foram protagonizados pelos jovens. Vem deles as "start-ups" e as novidades tecnológicas que estão mudando o mundo. Este novo status quo dos jovens se dá, de certa forma, em detrimento da experiência dos mais velhos. Mas isso é outra história.

O ponto central é que este comportamento contemporâneo de considerar crianças e adolescentes como agentes sociais tem um preço: estudos internacionais indicam que cerca de 20% das crianças de todo mundo carecem de tratamento psiquiátrico.

A ansiedade é o quadro mais frequente, atingindo cerca de 18% da população infantil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Já os transtornos de hiperatividade afetam aproximadamente 5% da população jovem, e os transtornos depressivos, cerca de 4%. Há, ainda, os transtornos de conduta, pouco diagnosticados porém de extrema relevância social.

A boa notícia é que se diagnosticados ainda na infância, tais quadros causam menos problemas nas escolas e, mais que isso, reduzem o sofrimento de uma parcela significativa da população infantil e de seus familiares.

Além dos pais e professores, os pediatras são os que mais convivem com as crianças e adolescentes. Por isso, devem ficar atentos aos primeiros sintomas das doenças mentais, como alterações no desenvolvimento e na conduta das crianças. Supor que esses sinais "passam com a idade" ou que são traços de personalidade é extremamente prejudicial para o jovem.

É preciso entender que a psicopatologia infantil é totalmente diversa da vivenciada por um adulto. A criança é um ser em desenvolvimento e, nessa faixa etária, a doença mental adquire sintomas diferentes, uma vez que desorganiza a curva de amadurecimento e ocasiona quadros deficitários a longo e médio prazos. Consequentemente, sua abordagem terapêutica é também específica.

O alarmante é que apenas 205 psiquiatras em todo o Brasil possuem o título de especialista em psiquiatria da infância e adolescência. Além de ser uma janela de oportunidade para "especialistas" aventureiros de toda a sorte, esta carência indica descaso e falta de comprometimento das instituições envolvidas –governos, classe médica e sociedade.

Segundo dados do governo federal, em 2011 o investimento em ciência e tecnologia no Brasil rondou os US$24 bilhões. O assombro é que este valor é 1.545% menor que o investimento americano, que totalizou US$ 398,2 bilhões.

Para suprir um pouco essa lacuna no que tange à medicina, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acabam de acordar uma parceria de apoio mútuo inédita no país, partilhando conhecimentos sobre psiquiatria, crescimento e desenvolvimento infantil.

A união entre áreas correlatas do conhecimento produzido no Brasil é o primeiro de vários passos que devem ser dados para que as questões de saúde mental infantil possam ser minoradas ou até mesmo sanadas, em que pese a ignorância e inoperância das instituições que por elas deveriam olhar.

ANTONIO GERALDO DA SILVA, 50, psiquiatra, é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
FRANCISCO ASSUMPÇÃO, 62, é psiquiatra, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria


Fonte: http://www.jornalfloripa.com.br/geral/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=12386


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