segunda-feira, 4 de maio de 2009

Violência X Saúde Mental

Criminoso ou doente mental?

Retirado do Blog saúde para Todos do Correio Braziliense o "psiquiatra Antônio Geraldo fala hoje sobre o costume de explicar atos violentos com a desculpa de que o criminoso possui problemas psiquiátricos. Para ele, é preciso cuidado com essa simplificação. Confira!"

VIOLÊNCIA E DOENÇA MENTAL

A violência é uma realidade no mundo atual. Está presente em todos os níveis, em quase todas as culturas, muito presente no nosso dia a dia, e cada vez mais, nos deixa intranquilos, nos provoca insegurança, ansiedade, insônia, um estresse diário.
Fui chamado para participar de um telejornal, ao vivo, com uma grande audiência, e o tema não era outro senão o que tem acontecido nos últimos dias e está na mídia em geral. São várias situações em que pessoas envolvidas com homicídios, após serem presas, falam que fazem tratamento psiquiátrico. Esta situação passa uma mensagem muito ruim para os familiares, amigos e pacientes que padecem de transtornos mentais. Temos de ter uma avaliação e uma postura equilibrada no sentido de não desvalorizar e nem tampouco supervalorizar tais notícias e também ao passar as informações para a população.
Os profissionais da mídia ao dar a notícia, apenas passam ao telespectador às informações recebidas. Claro que, em inúmeras situações, criminosos se dizem ser padecentes de doenças mentais, pensando que assim, poderão facilmente se safar de serem condenados. Um grande engano. Mas o que mais importa aqui é explicar a comunidade.
Em um estudo epidemiológico na Alemanha, Haefner e Boeker, após uma pesquisa de cerca de 10 anos, encontraram que não havia um excesso de doentes mentais entre os criminosos violentos. Steadman em 1998, em Nova York, não encontrou diferença na prevalência de violência em doentes mentais, que não abusaram de substâncias em relação à população em geral. Porém, o estudo dele mostra que o risco de violência em pessoas da população geral com relato de abuso de álcool ou drogas foi cerca de duas vezes maior do que em pessoas com esquizofrenia.
O que podemos constatar é que a associação entre doença mental e violência, pelo menos na intensidade em que tem sido noticiada, não apresenta uma explicação científica real. A pessoa que tem doença mental pode se tornar agressivo se estiver alcoolizado, mas sabemos que não é um privilégio do doente, pois àqueles que não tem a doença, quando alcoolizado, também comete crimes.
O que nos preocupa muito é o estigma que ronda a psiquiatria desde os seus primórdios. Com estes novos fatos pode levar a piorar a maneira como lidamos com pessoas que adoeceram e precisam de nossa ajuda. Tenho em mente uma frase: "O doente mental, não é por via de regra violento, perigoso, ele precisa de ajuda médica, tratamento e não deve se envolver com álcool e drogas".
Pessoas com doença mental necessitam de nossa compaixão, nosso cuidado, nossa proteção. Rótulos como esses impedem a verdadeira compreensão da doença e o pior da pessoa que precisa tanto de ajuda.

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