terça-feira, 5 de junho de 2012

Casos de suicídios aumentam muito em Jundiaí

Casos de suicídios aumentam muito em Jundiaí

São 20 registros este ano na cidade. Especialista alerta a saúde pública, pois o suicida, busca ajuda Aline Pagnan
aline.pagnan@bomdiajundiai.com.br

O número de casos de suicídios registrados em Jundiaí nos últimos 30 dias retrata o crescimento de quadros de depressão na sociedade. Em maio, foram pelo menos seis, mas desde o início do ano o número registrado na cidade chega a 20. Neste mesmo período em 2011, foram 12.

Entre as vítimas mais recentes em Jundiaí estão uma advogada, uma pedagoga e um estudante de direito. Ou seja, são pessoas que, teoricamente, deveriam ter uma vida estruturada, com mais oportunidades.

Segundo o psiquiatra Carlos Oliveira de Campos, da USP (Universidade de São Paulo), as mulheres tentam se suicidar quatro vezes mais que os homens, mas são eles que morrem mais, já que os métodos utilizados são mais agressivos.

“Esse crescimento demonstra que a sociedade como um todo precisa de ajuda e política públicas podem combater esses crimes”, alerta.

Doenças como câncer, epilepsia e aids ou doenças mentais, como alcoolismo, dependência química, depressão e esquizofrenia são fatores relacionados às taxas mais altas de suicídio. “A família precisa estar atenta aos sinais de uma possível pré-disposição ou indício de intensão ao suicídio.”

O isolamento e a redução drástica de atividades do cotidiano, desejo súbito de concluir alguns afazeres pessoais e deixar um testamento e sentimentos de solidão, impotência e desesperança podem ser indicativos.

O psiquiatra chama a atenção sobre quem manifesta frequentemente o desejo de acabar com a própria vida. “É importante não julgar essa pessoa, mas escutar com atenção o que ela tem a dizer e insistir para que se dê uma chance para superar seus problemas”, afirma.

Saúde pública / O presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Antônio Geraldo da Silva, aponta que o suicídio é problema de saúde pública. Segundo ele, além das vítimas, suicídio impacta de forma profunda no equilíbrio emocional das famílias.

Pesquisas da ABP revelam que cerca de 40% dos suicidas procuram os serviços de saúde dias ou semanas antes de tirar a própria vida. Segundo os estudos, eles chegam a estes locais sem especificar quais doenças estão sofrendo. “Esse pode ser um último pedido de socorro. Um profissional de saúde preparado para enfrentar a situação tem condições de identificar o problema, ouvir a pessoa, encaminhá-la para uma terapia adequada e tentar evitar que o suicídio ocorra.”

Jundiaí / O atendimento às pessoas que tentam o suicídio normalmente tem início nos pronto-socorros do Hospital Universitário (usuários até 18 anos) e Hospital São Vicente de Paula (acima dos 18 anos). Após o atendimento de urgência, o usuário é referenciado para um dos serviços de saúde mental (CAPS Infantil, no caso de crianças ou adolescentes e Ambulatório de Saúde Mental, ou CAPS Adulto, no caso de adultos) onde poderá dar continuidade ao atendimento em saúde mental.

Segundo a da prefeitura, são oferecidos atendimento de caráter multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, terapia ocupacional, assistente social, etc.). Mas como o BOM DIA revelou há alguns dias, o serviço não tem conseguido dar conta do recado.

Perfil de possível suicida é difícil de ser traçado

Entre as vítimas que cometeram o suicídio no último mês há pessoas de várias faixas de idade e de classes sociais diferentes. Para o psiquiatra, isso mostra que a depressão não atinge somente uma parcela específica da população.

“Independente da condição financeira, as pessoas que se matam cumprem duas condições, além de se sentirem deprimidas e desesperadas. Primeiro, elas devem ter um forte desejo de morrer. Isso geralmente se dá quando imaginam ser uma carga intolerável sobre os outros, e também quando não se sentem parte de um grupo, nem possuem alguém que possa lhes transmitir um sentimento de integração”, aponta Carlos.

O perfil de um possível suicida é difícil de ser traçado devido à diversidade de causas que levam as pessoas a tirar a própria vida. “Problemas financeiros, desemprego, separações conjugais, depressão e outras doenças psiquiátricas possuem relação direta com o fato.”

Ao telefone, a notícia de que um gato chegou para preencher a solidão

Antes de tomar qualquer tipo de atitude, a vítima demonstra alguns sinais e, às vezes, procura ajuda na conversa. E é voltado ao ato de desabafar e aliviar a angústia que existem programas de voluntariado como o CVV (Centro de Valorização da Vida) em Jundiaí.

Apesar de não ter sede física na cidade, o CVV recebe ligações, e-mails, cartas e até procura no chat do site de pessoas daqui.

Mas para quem pensa que as conversas são sempre em tons de tristeza e melancolia se engana. “Muitas vezes recebemos ligações de pessoas que só querem contar uma novidade. Mas, por morarem longe da família, ou por não terem esse contato, encontram no CVV a solução”, explica a atendente Gislaine Ferreira Flores.

Segundo ela, a maioria demonstra sinais de solidão. “Os comentários indicam esses sintomas, mesmo que a pessoa nos procure para contar que comprou um gato para ser seu companheiro.”

O psiquiatra Carlos Oliveira de Campos aponta que nem sempre estar alegre ao telefone é sinal de paz. “São apenas desconhecidos conversando, mas a pessoa que está amargurada consegue, neste contato, ter um retorno para suas angústias.”

FONTE: http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/23552/Casos+de+suicidios+aumentam+muito+em+Jundiai

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