quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Volta para casa

Volta para casa

Com fechamento de clínicas, no Rio, pacientes psiquiátricos retornam ao convívio familiar após anos internados

Escrito por DENISE MENCHEN DO RIO


Diante da perspectiva do retorno do filho para casa, os pais de Elias Antônio Santana Vilhena reagiram com medo.

Com retardo mental grave e sem nunca ter aprendido a falar, Elias foi internado em uma clínica psiquiátrica aos oito anos, após episódios de agressividade e fugas frequentes. Quando deixou o local, em julho deste ano, era um homem de 37.

A saída fez parte do processo de desativação da clínica neuropsiquiátrica Amendoeiras, de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Conveniada ao SUS, a instituição foi fechada por ordem da Justiça. Os últimos quatro dos 136 internos saíram no último dia 6.

A liminar foi concedida a pedido do Ministério Público Estadual que, em inspeção na clínica, encontrou pacientes nus que se arrastavam sobre as próprias fezes. O superintendente de Institutos Municipais de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Mario Barreira, diz que há anos o município não mandava novos pacientes para lá.

Desde 2001, uma lei federal veda a internação de pessoas com transtornos mentais em instituições com características de asilo e sem serviços adequados.

O processo de fechamento acontece também em outras instituições do tipo, como o hospital-colônia de Rio Bonito (a cerca de 80 km do Rio).

Em março havia 255 internos no local; em agosto eram 222. Alguns estão indo para casas de famílias e outros para residências terapêuticas (casas coletivas onde são acompanhados por cuidadores).

Com o fechamento do Amendoeiras, o objetivo era, sempre que possível, devolver o interno ao convívio social. Mas, apesar do esforço para encontrar as famílias -muitos já estavam havia décadas sem contato com parentes-, a maioria acabou indo para outras instituições. Seis deles, porém, conseguiram sair direto para o convívio familiar.

No caso de Elias, que durante 29 anos só viu os pais em encontros esporádicos, a primeira reação da família não foi boa. "Queria que ele ficasse lá", conta o pai, o eletricista aposentado Manoel Carlos Cardoso de Vilhena, 70.

Aos poucos, os pais concordaram em encontrá-lo. Pouco depois, o levavam para passar um fim de semana em família. Depois disso, não o deixaram mais.

"Eu acordei para minha responsabilidade de pai", diz Vilhena, que, durante o dia, deixa o filho no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), onde ele participa de atividades ocupacionais e é avaliado por um psiquiatra. Medicado, Elias não foge mais de casa nem está agressivo.

CRÍTICAS

Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, os governos adotam o caminho mais fácil ao optar por fechar instituições psiquiátricas. Na opinião dele, o caminho deveria ser a qualificação dos serviços.

Além disso, Silva questiona a eficiência do CAPS para a resolução de doenças mentais. "O CAPS como estratégia de ressocialização é uma coisa. Como equipamento médico é outra", afirma.

Fonte: Folha de S. Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/68235-volta-para-casa.shtml

sábado, 22 de setembro de 2012

Psiquiatras querem tornar crime preconceito contra transtornos





Psiquiatras querem tornar crime preconceito contra transtornos
Emenda ao projeto do novo Código Penal já foi apresentada no Congresso e prevê prisão de até 6 anos
Passariam a ser consideradas crimes ações como impedir nomeação a cargo público e demissão

Texto: DENISE MENCHENDO RIO


A Associação Brasileira de Psiquiatria quer tornar crime o preconceito contra pessoas com transtorno ou deficiência mental, batizado de psicofobia. Encampada pelo senador Paulo Davim (PV-RN), a proposta foi apresentada em agosto como emenda ao projeto do novo Código Penal, que tramita no Congresso.
Pela proposta, a psicofobia integrará o mesmo capítulo que trata do racismo e do preconceito de gênero. Assim, passaria a ser considerada crime, sujeita à prisão de dois a quatro anos, série de ações motivadas pela presença de transtornos ou deficiências mentais, como impedir nomeação a cargo público, demitir de empresa ou vetar acesso a transporte ou estabelecimentos comerciais.
O texto prevê pena maior, de três a seis anos, para os casos em que a presença de deficiência ou transtorno resulte no impedimento de inscrição em estabelecimento de ensino ou na dificuldade de acesso aos recursos necessários para a aprendizagem.
"O Ministério da Saúde estima que o Brasil tenha 46 milhões de pessoas que padecem de transtornos mentais", diz Davim. "O preconceito contra essa população deve ser tratado da mesma forma que o de raça ou gênero."
Para o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, a discriminação piora o quadro de saúde mental no país. "O preconceito faz com que as pessoas deixem de procurar tratamento", afirma.
Denise Ghigiarelli, 46, diz já ter vivido essa dificuldade com o filho, Emanuel, 15, diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. "Quando ele era menor, os colegas diziam que ele era retardado porque tinha que tomar remédio. Acabava que muitas vezes ele jogava o medicamento fora."
Ghigiarelli é favorável à inclusão da psicofobia no Código Penal. Ela diz que, se o crime já existisse, teria denunciado a professora que tentou impedir a presença do menino em feira de ciências.
"Ela disse que ele era muito estabanado e não ia participar. Tive que ir lá para intervir", afirma ela, que decidiu trocar o filho de escola.
EMPREGO
Já o vigilante Marcos Aliank, 27, atribui ao preconceito sua demissão do trabalho em abril deste ano, menos de cinco meses após ter sido contratado.
Segundo ele, a decisão foi tomada depois que o chefe tomou conhecimento de que ele estava em tratamento para dependência química no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da cidade.
"Eu nunca tinha tido nenhuma reclamação sobre meu serviço lá dentro", afirma Aliank, que começou a usar cocaína e crack em 2009.
"O pior é que a cidade é pequena e a história se espalhou. Não consigo mais emprego, mesmo já não usando mais drogas", diz ele.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Bipolaridade pode atrapalhar vida amorosa



Quem sofre de transtorno bipolar precisa procurar tratamento antes que seja tarde demais. A doença pode trazer graves consequências na vida amorosa e profissional; veja a terceira da série Transtorno Bipolar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Série apresenta modos de tratamentos para transtorno bipolar


Não existe cura para a doença mas é possível manter vida controlada com acompanhamento especializado e medicação. Veja.

Fonte: http://noticias.r7.com/videos/serie-apresenta-modos-de-tratamentos-para-transtorno-bipolar/idmedia/50586dc6b61c85ef7b319358.html

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Agitação e agressividade podem ser sinal de transtorno bipolar


Uma pessoa falante, agitada e às vezes agressiva pode estar sofrendo de transtorno bipolar. São picos de euforia e de tristeza profunda. Quem sofre com o transtorno perde o controle sobre suas ações e humor; veja!
FONTE: http://noticias.r7.com/videos/agitacao-e-agressividade-podem-ser-sinal-de-transtorno-bipolar/idmedia/50571b31fc9b91c82ff4d33c.html

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ação estimula valorização da vida

Ação estimula valorização da vida

Deixar o tabu de lado e conversar sobre o assunto. Na tentativa de orientar a população de Fortaleza e ajudar a salvar vidas, profissionais, estudantes e pesquisadores do Projeto de Apoio à Vida (Pravida) realizaram, ontem, na avenida Beira Mar, a III Caminhada Pravida. Com a ação, turistas e fortalezenses que passaram pelo ponto de concentração, na Praça dos Estressados, foram esclarecidos sobre as possibilidades de prevenção do suicídio.Conforme dados do Projeto, no Nordeste, na última década a taxa de suicídios aumentou 130%. Dentre as Capitais, Fortaleza é a Cidade nordestina com as maiores taxas de suicídio. “Por isso é fundamental falarmos sobre o tema. Quando tratamos da questão temos a possibilidade de orientar as pessoas. Muitas deixam de morrer em função do trabalho de assistência e esclarecimento”, defendeu o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva.
De acordo com o psiquiatra, o tema deve ser encarado como um problema de saúde pública. Toda vez que alguém tenta suicídio, segundo o médico, o Estado deveria obrigatoriamente, ser avisado para que, automaticamente, esta pessoa fosse obrigada a entrar em um sistema ambulatorial de tratamento. Porém, a realidade é bem diferente, já que as políticas de prevenção ao suicídio ainda são inadequadas, conforme o profissional. “Quando há qualquer tentativa de suicídio, nos três meses posteriores a possibilidade de um nova tentativa é de 90%. Sabendo disso temos como agir diante de quem precisa de ajuda. Não podemos ser negligentes”, argumentou. No âmbito nacional, ambulatórios como o Pravida, projeto que agrega acadêmicos de Medicina e Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), no serviço de atenção especializada às pessoas que tentaram o suicídio, destacam-se na concretização das ações, que deveriam se executadas pelo poder público, segundo o representante da ABP.
ESCLARECIMENTOS
Para a auxiliar administrativa Jacira Ferreira, que aproveitou a manhã de domingo para passear na praia, a caminhada que fez referência ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado hoje, foi um momento esclarecedor. “Eu sou muito curiosa, sempre gosto de ter informação. Quando meu chefe chegou com os panfletos quis saber mais sobre o assunto. Com as conversas compreendi o quanto é importante debater esse tema”, contou. E é esta a intenção do movimento, conforme o coordenador do Pravida, psiquiatra Fábio Gomes de Matos, desmistificar o assunto e ajudar a disseminar as iniciativas de assistência. De acordo com ele, a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, o abuso de substâncias e o transtorno de personalidade, são perturbações potencialmente causadoras de suicídio é devem ter atenção especial. No Pravida, em funcionamento desde 2005, cerca de 1.400 pessoas já foram atendidas. Atualmente, 20 pacientes têm tratamento semanal e outros 20 são atendidos a cada 15 dias. Durante o tratamento, a formação de vínculos e participação da família são fundamentais, segundo o médico, para que o paciente sinta-se amparado e possa apresentar resultados positivos.
ENCAMINHAMENTOS
Dos encaminhamentos que o Pravida recebe, Fábio explicou que, eles derivam da busca ativa feita diariamente no Instituto Doutor José Frota (IJF), dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), do Programa de Saúde da Família (PSF) e também recebe a demanda espontânea.
Apesar da importância do tratamento, que segundo o médico, deverá ser expandido para outros núcleos (Unifor, Centro Universitário Christus e Hospital Geral de Fortaleza) nos próximos períodos, esse mecanismo ainda não recebe a devida importância no Município.“Como não temos um política pública municipal neste âmbito, se procurarmos nos Caps não são responsáveis por este atendimento. Não tem uma definição das responsabilidades nem do referenciamento, não se sabe quem vai encaminhar para quem. Isto precisa ser mudado urgentemente”, alertou.

Fonte: O Estado - CE
http://www.oestadoce.com.br/index2.php?acao=noticias&subacao=ler_noticia&cadernoID=22&noticiaID=76826

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Direito integral à saúde é prioridade



Direito integral à saúde é prioridade
A internação involuntária de dependentes químicos é o tema da seção Polêmica da CH 295. O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva defende que, diante da incapacidade do doente, cabe ao médico, à família e ao poder público garantir-lhe a melhor assistência.
Por: Antônio Geraldo da Silva
Publicado em 06/09/2012 Atualizado em 06/09/2012 - Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/295/direito-integral-a-saude-e-prioridade/view
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, defende que todo cidadão deve ter acesso ao melhor tratamento, o que pode acontecer no ambulatório, com internação parcial ou integral.

A sociedade brasileira espera, há vários anos, que o governo federal saia da inércia e passe a atuar de modo mais efetivo na atenção ao doente mental – e agora, especialmente, ao dependente químico. Uma luz mais forte surgiu no final de 2011, quando o governo anunciou um conjunto de ações para operacionalizar o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, criado em maio de 2010. No entanto, a proposição midiática ainda não se tornou prática assistencial e preventiva.
Para esclarecer esse assunto, é necessário atentar para o que acontece hoje e avaliar o cenário dos problemas psicossociais que o Brasil enfrenta. Partimos do princípio definido pela Lei 10.216, de 2001, que estabelece os três tipos de internação em psiquiatria: a voluntária, involuntária e a compulsória. A primeira se dá quando o paciente concorda com a internação e tem a capacidade de decidir e de compreender a finalidade da internação.
A involuntária é aquela determinada contra a vontade do paciente, mas com o consentimento da família. Cabe ao médico informar ao Ministério Público, no prazo de 72 horas, a justificativa para esse tipo de internação. Já a compulsória é decidida pelo magistrado, após ouvir o parecer do psiquiatra. A justificativa habitual para a forma compulsória é o fato de o paciente representar risco para si ou para a coletividade.


A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) não prioriza ou prestigia qualquer das formas de internação. O que a entidade defende é a aplicação da Lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Ela redireciona o modelo assistencial em saúde mental e determina que é direito de todo cidadão ter acesso ao melhor tratamento, o que pode acontecer no ambulatório, com internação restrita ao dia, à noite ou integral.
Cabe ao psiquiatra fazer a indicação do tratamento, já que esse profissional detém o conhecimento a respeito dos procedimentos mais efetivos para preservar a integridade e a vida da pessoa enferma
A ABP também defende que cabe ao psiquiatra fazer a indicação do tratamento, já que esse profissional detém o conhecimento a respeito dos procedimentos mais efetivos para preservar a integridade e a vida da pessoa enferma. É necessário que a sociedade entenda que as doenças mentais requerem atendimento diferenciado e não podem ser comparadas a outros males ou problemas de saúde mais conhecidos, como infarto do miocárdio, pneumonia, apendicite, insuficiência renal ou fraturas em geral, para citar alguns.
Os médicos indicam o melhor tratamento para o paciente, respaldados por evidências científicas de efetividade das opções terapêuticas. Cabe ressaltar que as questões sociais envolvidas em cada situação clínica devem ser resolvidas por assistentes sociais e as questões jurídicas por profissionais do direito.
O objetivo é garantir condutas clínicas eficazes, contando com os esforços integrados de equipes multidisciplinares. A ação dessas equipes deve estar focada no melhor tratamento dos doentes. São estes que estão em situação de risco e se espera que possam discernir os fatos e decidir pelo que, de fato, julguem ser o melhor. No entanto, diante da eventual incapacidade do paciente, cabe ao médico – juntamente com os familiares responsáveis e, por extensão, com o poder público – garantir a melhor atenção em saúde.
Atualmente, no Brasil, há uma demanda por atendimento psiquiátrico em todos os níveis e a rede especializada existente não é capaz de atender a essa necessidade. Com exceção dos hospitais psiquiátricos, os serviços atuais não têm sido avaliados sistematicamente em termos de eficácia, eficiência e efetividade, o que contribuiria para seu aprimoramento. Além disso, o país perdeu cerca de 90 mil leitos psiquiátricos nos últimos anos. Portanto, o poder público não apenas demonstra um marcado desinteresse em qualificar o atendimento existente, mas também fecha serviços psiquiátricos, demonstrando descaso para com a população carente de atenção em saúde nessa área.
Segundo Antônio Geraldo da Silva, o Brasil perdeu cerca de 90 mil leitos psiquiátricos nos últimos anos.

Outra grande preocupação para os psiquiatras é a transformação dos presídios em novos manicômios. Pacientes psiquiátricos que cometem delitos são somados aos presidiários que padecem de doenças mentais. Este é outro subproduto da desassistência crescente em psiquiatria: os presídios brasileiros, em seu conjunto, já abrigam mais de 60 mil doentes mentais graves.
Assim, lutamos exatamente pelo cumprimento da Lei 10.216. Essa norma legal precisa ser obedecida nos seus parâmetros reais, sem ser burlada por interpretações espúrias que embasam portarias equivocadas sobre a atenção em psicopatologia. É preciso evitar discursos ideológicos, que evidenciam grave conflito de interesses. Nós, psiquiatras, nos colocamos em oposição ao que se observa hoje: doentes mentais tornando-se moradores de rua, ao sabor da desassistência psiquiátrica. A ABP também se dispõe a colaborar para uma abordagem organizada de problemas como a disseminação do uso de cocaína em sua forma fumável, o crack.
Mais de 90% do trabalho psiquiátrico pode ser realizado em ambulatórios, com condições dignas de atendimento e com um melhor resultado para o paciente. A internação é o último recurso dentro de uma rede de atenção ao doente mental e, quando necessária, deve ser feita em local adequado, com qualidade comprovada e com resolutividade, ou seja, capacidade de resolução dos casos. Capacidade esta que é rotina no sistema privado e nos melhores centros acadêmicos do mundo. Lidamos com a vida e por isso buscamos a qualidade de vida da sociedade.

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