terça-feira, 7 de julho de 2015

Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra: 'O pai do estigma se chama Hollywood'

Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra: 'O pai do estigma se chama Hollywood'
Estudioso da psicofobia (pânico de doenças mentais), mineiro, que mora em Brasília e preside associação da classe, veio ao Rio a trabalho
POR LEONARDO CAZES

Segundo o presidente Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, só no Brasil 50 milhões de pessoas com algum tipo de transtorno mental - Pedro Kirilos / Agência O Globo
“Nasci em Grão Mogol, no interior de Minas Gerais, há 51 anos, passei a maior parte da vida em Montes Claros e atualmente moro em Brasília. Sou casado, tenho uma filha e faço doutoramento em psiquiatria na Universidade do Porto, em Portugal. Estou no meu segundo mandato à frente da Associação Brasileira de Psiquiatria”
Conte algo que não sei
Vou contar o que é psicofobia. Há milêniosexiste um grande preconceito contra doenças mentais. Várias pessoas foram queimadas em fogueiras porque ouviam vozes. Sempre foram segregadas, vistas como fardo.
Qual o tamanho desta população tão estigmatizada?
Só no Brasil temos cerca de 50 milhões de pessoas com algum tipo de transtorno mental. No mundo, um bilhão. Em geral, ninguém sabe, nem os doentes, que escondem sua condição e ignoram que podem se tratar.
Por que números tão altos?
O estresse hoje em dia é um grande facilitador da doença mental, atuando em tendências preexistentes. Você dorme pouco, come mal, não se exercita e vive sob uma pressão brutal. Cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho são relacionadas a transtornos mentais.
O ambiente de trabalho é hostil ao doente mental?
As pessoas não toleram que as outras mudem e que tenham perdas de produção. Aí dizem que é só preguiça, falta de vontade e até de caráter. Quem tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) sofre um preconceito monstruoso.
O que ocorre, no caso?
Virou moda dizer que essa doença não existe, que é inventada. Acontece que tem dois mil anos. Quero saber quem conheceu esse cara que a inventou.
Há o próprio preconceito do doente, não?
Tem o autopreconceito: “Não vou procurar um psiquiatra, não sou louco”. Só que isso muda completamente o prognóstico da doença, ela se torna crônica. O que mais queremos hoje é a intervenção precoce. Estimular uma mudança de comportamento aos primeiros sintomas para que nem seja preciso entrar com medicação. Claro que há casos em que ela é indispensável desde o início.
Quais são esses primeiros sinais das doenças?
Há várias possibilidades dependendo de qual doença. Tristeza, desânimo, falta de prazer, de alegria, em geral é depressão. Se o coração dispara, tem sensação de sufocamento, é transtorno de pânico. E assim em uma série de situações. Quando há modificações de hábitos ligados a instinto, como sono e apetite, tem que cuidar.
O medo do desconhecido explica o preconceito?
Sim. As pessoas acham que é perigoso porque não sabem do que se trata. Então é melhor separar, discriminar. Fizeram isso com os hospitais psiquiátricos. Por que não há unidades de psiquiatria no hospital geral? Porque ninguém quer doente mental dentro do hospital.
Por que o senhor escolheu a psiquiatria?
Porque eu gosto do ineditismo e também pela possibilidade que a especialidade dá de ajudar as pessoas que têm suas vidas destruídas por quadros psiquiátricos a voltarem a viver. Todo dia há um fato novo na psiquiatria. Nada se repete. E é isso que me impressiona.
Na queda do avião alemão, logo surgiu a informação de que o piloto tinha depressão. Isso aprofunda o estigma?
O pai do estigma, de sua difusão, se chama Hollywood. São filmes e mais filmes que discriminam o doente. Sabe quando a pessoa tem febre, não se consegue explicar a razão e chamam de virose? É a mesma coisa. Quando não se tem explicação para um fato, dizem que é doente mental, e tudo se resolve.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.g
lobo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/antonio-geraldo-da-silva-psiquiatra-pai-do-estigma-se-chama-hollywood-16614786#ixzz3fDmCgjfd 


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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Prevenção e tratamento precoce são ideais para melhorar a vida de quem tem doenças psiquiátricas

Prevenção e tratamento precoce são ideais para melhorar a vida de quem tem doenças psiquiátricas

Ciência e medicina caminham na busca de outras alternativas, mas os modelos tradicionais ainda são os mais comuns e eficazes.
Por Leopoldo Rosa
Ao longo desta série, conhecemos histórias de jovens que desde muito cedo vivem com doenças psiquiátricas. Esses mesmos personagens provaram que é possível superar os transtornos. Mas dificuldades de quem tem uma doença mental são inúmeras. Vão de aceitar a necessidade de ajuda profissional à encarar as pessoas. E é aí, no preconceito demonstrado pelos outros, que moram boa parte dos problemas, mesmo para quem já está em tratamento.
O Ministério da Saúde destaca o aumento no número de CAPS, os centros de atendimento psicossociais que tem mais de 2,2 mil unidades em todo o país, como um avanço no tratamento. Desde 2001, existe uma lei e uma política nacional de saúde mental que preveem menos internações e mais tratamentos alternativos. O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, diz que o serviço público ainda precisa incorporar uma cultura de prevenção para a saúde mental, como existe em outras áreas. 
No mundo todo existem estudos em curso para encontrar novas formas de tratamento para doenças mentais, alternativas à psicoterapia e aos remédios. Em São Paulo, pesquisadores da USP desenvolveram uma técnica que usa estimulações elétricas para o tratamento de transtornos como a depressão. O médico André Russowsky, responsável pela pesquisa, diz que o método é indolor e já apresentou resultados positivos:
Algo parecido é testado por cientistas da Faculdade de Medicina de Harvard nos Estados Unidos para o tratamento de TOC. Lá, os estudiosos usaram ratos como cobaias de uma técnica de estimulação por fibra ótica e conseguiram tanto incentivar quanto interromper os comportamentos repetitivos nos animais. A técnica ainda não foi empregada em humanos, mas indica que esse tipo de estímulo está no radar dos médicos como forte alternativa para melhorar a vida de quem tem transtornos mentais no futuro. No que diz respeito à prevenção, um estudo feito com jovens entre 15 e 16 anos, na universidade americana de Illinois, mostrou que quem faz algum tipo de trabalho voluntário tem menor chance de desenvolver depressão. 
Para quem tem transtornos mentais, um sorriso é mais que um mexer de músculos, é a retomada de sentido em algo que parecia perdido: a própria vida. E é nesses sorrisos que mora o recomeço.


Para Ouvir:



Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/series/juventude-no-diva/2015/06/12/PREVENCAO-E-TRATAMENTO-PRECOCE-SAO-IDEAIS-PARA-MELHORAR-A-VIDA-DE-QUEM-TEM-DOENCAS-PSI.htm#ixzz3eUQv9cHD

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