quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Depois da violência e da tragédia, o estresse.

Depois da violência e da tragédia, o estresse
Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
O risco de exposição a trauma faz parte da condição humana desde a evolução como espécie, seja por ataques de tigres de dentes de sabre ou de terroristas do século XIX. Violência urbana, física, psicológica, emocional e/ou sexual, provavelmente produziu seqüelas psicológicas semelhantes nos sobreviventes desses atos violentos.
Estima-se que a prevalência do TEPT na população é aproximadamente de 1 a 4% (Elder, 1987 - Kessler, 1995). Sem escolha de classe social, é entendido como uma perturbação psíquica decorrente e relacionada a um evento fortemente ameaçador ao paciente. Uma testemunha de tragédia também pode sofrer do mesmo distúrbio. Atualmente é o quinto transtorno mental mais comum.

Como reconhecer

O primeiro aspecto a ser definido é a existência de um evento traumatizante, como os seqüestros, assaltos violentos, estupros, acidentes automobilísticos e da aviação. Há, contudo certos eventos que podem não ser considerados graves como um acidente de carro sem vítimas.
Com certeza, um evento marcante, fora da rotina, que de alguma forma represente uma ameaça, tem que ter acontecido: sem isso não será possível fazer o diagnóstico, pois a definição dele envolve o evento externo. Os sintomas têm que estar diretamente relacionados ao evento estressante, as imagens, as recordações e as lembranças têm que ser a respeito do ocorrido e não sobre outros fatos quaisquer ainda que ameaçadores.

É possível que o paciente tenha flashbacks ou alucinações com as imagens do evento traumático. As situações que lembram o evento causam intenso sofrimento e são evitadas. Ter de expor-se novamente ao local pode ser insuportável para o paciente. Por isso ele passa a evitar os assuntos que lembrem o evento, como também as conversas, pessoas, objetos e sensações, tudo que se relacione ao trauma.

A recordação dos aspectos essenciais do trauma pode também ser apagada da memória. A pessoa pode afastar-se do convívio social e outras atividades mesmo que não relacionadas ao evento. Pode passar a sentir-se diferente das outras pessoas. Pode passar a ter dificuldade de sentir determinadas emoções, como se houvesse um embotamento geral dos afetos. Pode passar a encarar as coisas com uma perspectiva de futuro mais restrita, passando a viver como se fosse morrer dentro de poucos anos, sem que exista nenhum motivo para isso.
Em crianças o transtorno pode manifestar-se por meio de agitação, comportamento desorganizado, sonhos amedrontadores e "teatralização" do trauma. Outros sintomas são insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, respostas exageradas a estímulos normais ou banais.

Para se fazer o diagnóstico é preciso que esses sintomas estejam presentes por no mínimo um mês. Caso o tempo seja inferior a isso não significa que a pessoa não teve nada, só não se pode dar o parecer final. Certos sinais não compõem o diagnóstico, mas podem ser encontrados nos paciente com estresse pós-traumático como dor de cabeça, problemas digestivos, baixa imunidade, tonteiras, dores no peito e desconfortos.
Importante saber

O transtorno de estresse pós-traumático é muito comum, porém pouco conhecido, como nas décadas passadas foram desconhecidos, porém freqüentes os transtornos de pânico, fobia social, obsessivo compulsivo.
O TEPT se diferencia dos demais distúrbios de ansiedade e da maioria dos transtornos mentais por ser causado a partir de um fator externo. O aparato mental do homem é capaz de lidar com situações estressantes sem que isso deixe cicatrizes, da mesma forma que os vasos sanguíneos são capazes de suportar elevações da pressão arterial durante o exercício físico normalmente.
Há, contudo limites a partir dos quais o funcionamento mental fica perturbado. Provavelmente isso ocorre quando os mecanismos de enfrentamento e suporte contra estresse são fracos ou quando os estímulos são fortes demais. Quando surgirá o transtorno não podemos saber: o fato de uma pessoa ter passado por um trauma não significa necessariamente que ela terá o TEPT. Observa-se que num mesmo evento, algumas pessoas podem apresentar esse transtorno e outras não.
Quem tem chances de ter tal quadro?
Qualquer pessoa pode desenvolver TEPT, desde uma criança até um idoso. Acredita-se que pelo menos 60% dos homens e 50% das mulheres experimentam pelo menos um evento traumático durante a vida. Os sintomas não surgem necessariamente logo depois da tragédia, podem levar meses. O intervalo mais comum entre evento traumatizante e o início dos sintomas são três meses. Muitas pessoas se recuperam dos sintomas em seis meses aproximadamente; outras podem ficar com os sintomas durante anos.
Como fazer para tratar
O TEPT é uma doença complexa, e o seu tratamento inclui abordagem psicoterapêutica e tratamento medicamentoso. A pessoa deve procurar um psiquiatra e relatar tudo o acontecimento e a relação dela com a tragédia. O paciente deve contar também a relação do trauma no meio familiar, pois algumas vezes é necessário cuidar também dos familiares. Os estudos mais recentes mostram uma grande relação do TEPT com depressão.
* Antônio Geraldo da Silva é médico psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília
Enviar sugestões e informações pelo e-mail maria.vitoria@correioweb.com.br

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