quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cuidado: mau humor contamina

Muito além de um traço negativo de comportamento, o mau humor crônico é uma doença e atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo


Por Talita Boros

talita.boros@folhauniversal.com.br

Maria Clara*, de 29 anos, tem fama de arrogante e antipática. No trabalho, não se dá bem com ninguém. Em casa, ignora a presença da família e faz questão de passar o tempo livre que tem sozinha, trancada no quarto. Desde que se lembra, sempre foi assim. "Nunca fui de outro jeito. Minha mãe diz que eu era uma criança feliz até os 12 anos e que depois mudei. Não tenho amigos, nunca tive um namorado. De forma geral, não suporto as pessoas", conta. Muito além de um problema comum de humor ou relacionamento, Maria Clara faz parte do grupo de pessoas que sofrem de distimia, também conhecida popularmente como mau humor crônico. Em todo o mundo, pelo menos 5% das pessoas sofrem dessa patologia, a maioria do sexo feminino. E, assim como a maior parte dos transtornos psiquiátricos, a distimia causa prejuízos que vão muito além da saúde e atingem toda a vida familiar, social e profissional dos portadores.

"Já fui demitida por causa da doença. Não conseguia trabalhar em equipe e isso era muito importante na empresa. Discutia com todos e acabei indo para o olho da rua", conta Maria Clara, que é formada em administração, e hoje esconde no atual emprego sua condição de saúde. O psiquiatra Eduardo Aratangy, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que justamente o prejuízo causado pelo humor é o que diferencia um distímico de uma pessoa apenas conhecida como "rabugenta". "As pessoas que convivem com um distímico descrevem esta pessoa como mal-humorada, pessimista e sensível à frustração. Conforme a gravidade do quadro podem ocorrer prejuízos no rendimento profissional, nas interações sociais e nos relacionamentos pessoais", afirma.

De acordo com Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, a distimia envolve sintomas crônicos e de longa duração – por mais de 2 anos – que não incapacitam, mas impedem o indivíduo de funcionar bem ou de se sentir bem. A patologia é considerada um tipo de depressão, assim como outros transtornos de humor como a bipolaridade. O doente, diferentemente do mal-humorado eventual – que é estimulado por um acontecimento negativo – está sempre de cara feia, independentemente de ocorrer algo positivo ou negativo. Enquanto a maioria das pessoas se diverte e dá risadas numa festa, por exemplo, o distímico fica no canto, emburrado e deslocado. Segundo Geraldo, não se sabe as causas exatas que levam ao aparecimento da doença, mas existe uma combinação de diversos fatores – genéticos, ambientais e de desenvolvimento.

* Maria Clara é nome fictício: a entrevistada pediu para não ser identificada

Fonte: http://www.folhauniversal.com.br/especial/noticias/cuidado-mau-humor-contamina-11343.html

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