quinta-feira, 8 de março de 2012

A hora de pagar Promessas

A hora de pagar promessas


como cracolândia, em São Paulo, suscitou uma discussão sobre os limites da atuação do governo e da força policial no tratamento dos dependentes químicos. A operação é apoiada por 82% dos paulistanos, segundo o instituto de pesquisas Datafolha.

Mas quanto tempo dura esse efeito midiático de uma cracolândia limpa?

Qual estratégia deve ser usada pelos órgãos públicos para controlar a epidemia do crack e garantir o tratamento dos dependentes que estão sendo internados compulsoriamente?

Tirar o dependente químico das ruas - de forma compulsória ou involuntária, como vem acontecendo - e oferecer tratamento adequado é, com certeza, a estratégia fundamental para vencer o jogo contra a droga.

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apoia a internação compulsória ou involuntária - desde que seja acompanhada e indicada por um psiquiatra - porque entende que é a forma ideal de garantir a saúde e a vida do usuário, mas também defende que é preciso mais do que ações policiais para que o usuário se afaste das drogas e tenha qualidade de vida.

E é exatamente no pós-ação policial - no tratamento - que está o calcanhar de aquiles da operação da cracolândia paulista e de outras que se desenvolvem em todo o Brasil. Para onde enviar os dependentes e como tratá-los? Os hospitais, clínicas e Centros de Atendimento Psicosociais (CAPS-AD) estão preparados?

A sociedade e a ABP esperam há vários anos que o governo saia da inércia e passe a atuar de forma mais efetiva. Uma luz mais forte surgiu no final de 2011, quando o governo lançou um conjunto de ações para operacionalizar o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, criado em maio de 2010.

A ideia dos comandados da presidente Dilma Rousseff, mais especificamente os Ministérios da Saúde e da Justiça, é concentrar as ações em três eixos: o cuidado, que prioriza o atendimento ao dependente químico e a seus familiares; autoridade, com foco no combate ao tráfico de drogas; e a prevenção. Também está prevista a criação de enfermarias especializadas nos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde). Até 2014, o Ministério da Saúde prevê o repasse de recursos para a criação de 2.462 leitos, que serão usados para atendimentos e internações de curta duração durante crises de abstinência e em casos de intoxicação graves.

Contudo, se faz necessário a implantação de vagas hospitalares para internações de longa duração, preferencialmente em unidades de psiquiatria. E na impossibilidade de vagas públicas, que as clínicas conveniadas sejam usadas para internação, como se faz em relação a outras patologias que recebem atenção integral do SUS e tratamento igual. Este parâmetro, inclusive, faz parte Rede de Atenção Psicossocial, criada pelo governo no final de 2011 e ainda não operacionalizada.

Finalmente o governo entendeu que a questão do crack - que se instalou no Brasil há mais de duas décadas - é um problema de Saúde Pública. O ministro Alexandre Padilha admitiu a "epidemia" e foi mais além. Disse que o crack avançou na sociedade mais do que as ações governamentais de combate à droga e que a rede pública de saúde não está preparada para o atendimento.

Entramos em 2012 e a luz está diminuindo porque até agora nenhuma das medidas foi implementada. O que continuamos a ver é um modelo de atendimento que não supre a demanda, não tem eficiência e resolutividade e, principalmente, não atende a Lei 10.216/2001 que estabeleceu as diretrizes da saúde mental no país, emoldurando uma nova estratégia, fundada na humanização do tratamento e na formação de uma rede, sem nenhum serviço com características asilares, o núcleo deixou de ser o hospital, mas passou a ser outro serviço, o CAPS. Ainda estamos longe de uma rede.

O fundamento mais importante é o fortalecimento da proteção e promoção da saúde, prevenção da doença e da atenção. E isso só se dá com uma rede de saúde eficiente e preparada.

É preciso colocar o foco no usuário de drogas no dia a dia e não apenas no momento isolado, quando a imprensa destaca nos noticiários e nas primeiras páginas de jornais.

A ABP está pronta para ajudar e já se dispôs para tal. Agora só falta o governo pedir.

Antônio Geraldo da Silva

pres. Assoc. Bras. Psiquiatria

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1102186

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