terça-feira, 9 de maio de 2017

Dados sobre antidepressivos podem mascarar situação

Dados sobre antidepressivos podem mascarar situação

Prefeitura de Jaú entrega quase 4 milhões de comprimidos para depressão e ansiedade em 2016


A Prefeitura de Jaú entregou quase 4 milhões de comprimidos usados para tratar depressão e ansiedade em 2016. O dado foi informado à reportagem pela Secretaria de Saúde do Município.
Embora o montante de medicamentos assuste, a estatística pode levar à errônea constatação de que existe, necessariamente, uma medicalização excessiva. 
Por isso, o assunto merece ser debatido de forma cautelosa e livre de preconceitos – o alerta é de Antônio Geraldo da Silva, diretor tesoureiro e superintendente técnico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal).
Segundo os dados da Secretaria de Saúde de Jaú, os dez medicamentos com mais saída do almoxarifado para distribuição foram sertralina, clomipramina, nortriptilina, carbonato de lítio, imipramina, clonazepam, nitrazepam, diazepam, amitriptilina e fluoxetina. 
Foram, no total, 3.743.794 comprimidos. Não significa que, obrigatoriamente, essa foi a quantidade retirada por moradores de Jaú ao longo do ano passado, mas a quantia de medicamentos que saíram do almoxarifado, o que é feito conforme a demanda.
Num primeiro momento, o número pode assustar e levar à conclusão de que, numa cidade de aproximadamente 140 mil habitantes, a população está consumido antidepressivos e ansiolíticos em excesso.
Contudo, o psiquiatra Silva explica que, no caso de muitas das substâncias na lista da Prefeitura, é necessário dar mais de um comprimido para formar uma dose diária. 
“Por exemplo, o remédio imipramina, que não tem patente. A dose varia de 150 a 300 miligramas. Então, a pessoa tem de ingerir de seis a 12 comprimidos de 25 miligramas cada para que se obtenha o efeito de um”, explica.
Essa mesma matemática pode ser aplicada à clomipramina e à amitriptilina, cujas doses são de 150 a 300 miligramas por dia. Portanto, o paciente que retira medicamentos na Prefeitura precisa tomar de seis a 12 comprimidos de 25 miligramas cada. No caso da fluoxetina, quando se tem à disposição o comprimido de 20 miligramas, em geral é necessário ingerir dois por dia.
A sertralina, que em Jaú é distribuída na versão de 50 miligramas e é o medicamento mais procurado, com 1,5 milhão de comprimidos em 2016, é aplicada entre 100 e 300 miligramas por dia para tratar os pacientes. 
Tratamentos
Antônio Geraldo da Silva acrescenta que os medicamentos mencionados são usados na psiquiatria para tratar depressão, ansiedade, transtorno do pânico, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), entre outras doenças psiquiátricas. 
Alguns desses remédios, porém, também são empregados no combate a condições não psiquiátricas, como fibromialgia, dor crônica e tensão pré-menstrual (TPM).
“Toda vez que se fala de excesso de medicamentos, é preciso fazer as contas e analisar os dados de maneira responsável. Vejo, no Brasil, um subtratamento de doenças psiquiátricas”, critica. 
“Temos grande quantidade de doentes mentais nas cadeias, nas ruas, sendo explorados e sem conseguir emprego. É muito preconceito e descaso em relação aos doentes”, conclui.


Fonte:http://www.comerciodojahu.com.br/noticia/1363106/dados-sobre-antidepressivos-podem-mascarar-situacao

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