sábado, 20 de agosto de 2011

PELA PRIMEIRA VEZ O CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE SERVIÇOS DE SAÚDE TEVE UM MÓDULO DE SAÚDE MENTAL EM SUA PROGRAMAÇÃO

PELA PRIMEIRA VEZ O CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE SERVIÇOS DE SAÚDE TEVE UM MÓDULO DE SAÚDE MENTAL EM SUA PROGRAMAÇÃO.


Este ano juntou-se oficialmente ao Congresso Latino Americano de Saúde ("ClasSaúde") a Associação Médica Brasileira (AMB) e pela primeira vez em 14 anos tivemos um "Módulo de Saúde Mental". Segundo o Presidente da CNS Dr. José Carlos Abrahão a programação científica é importante para atender às necessidades na área da Saúde.

O Módulo de Saúde Mental ocorreu dia 03/06 no auditório Santana, lotado por profissionais da saúde, gestores, administradores e Conselheiros Estaduais e Municipais da Saúde; no 14º Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde, durante a feira "Hospitalar".

O Presidente da FENAESS, Dr. Humberto Gomes de Mello, médico psiquiatra, fez a abertura dos trabalhos e, em breve discurso, demonstrou imenso orgulho em ter a Saúde Mental como parte integrante do programa oficial do "ClasSaúde".

"Conseqüências Sócio-Econômicas do Atual Modelo de Atendimento às Enfermidades Mentais no Brasil" foi proferida pelo presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, Dr. Antônio Geraldo da Silva, médico psiquiatra e coordenada pelo Dr. Ricardo Mendes. Antonio Geraldo apresentou os reflexos da doença mental na população. De acordo com ele, e com dados do Ministério da Saúde (que fala em 21% da população), 20 a 25% das pessoas têm prevalência à sofrer de problemas mentais, de ter alguma doença mental.

Das dez principais causas de incapacitação no mundo, cinco são por doenças mentais, uma estatística assustadora, exceto ao que parece para o governo.

Destacou que não existe prevenção ou promoção à Saúde. Que não existem campanhas preventivas e programas de informação sobre as doenças mentais, como tentar evitá-las, detecção precoce ou acesso a tratamento adequado.

"Responsabilidade Social: A Necessidade de Organização de Serviços para o Dependente Químico" foi o tema do Professor Titular de Psiquiatria da UNIFESP, Dr. Ronaldo Laranjeira. Apresentou bases para o tratamento, e abordou o equilíbrio que deve existir entre cuidado comunitário (em suas mais diversas formas) e hospitalar. Destacou ser um modelo de complexidade crescente e, a necessidade pensarmos na doença mental como algo complexo, que soluções simplistas, como os CAPS, não resolvem.

O psiquiatra gaúcho, Procurador de Justiça aposentado e responsável pela seção de Psiquiatria Forense da WPA, Dr. José Geraldo Vernet Taborda, discorreu sobre "Perversões e Ambigüidades do Sistema de Saúde Mental". Falou do simbolismo e do poder que as palavras têm, a forma como são ditas ou escritas, as maneiras e contextos em que são destacadas. Na área da Saúde, e principalmente na Saúde Mental, temos notado que o uso rotineiro destes métodos tem produzido confusão e inversões graves de valores.

Salientou que devemos prestar atenção à ambigüidade das palavras, os significados e significantes que podem ser à elas atribuídas em determinado momento ou contexto.

Nos últimos anos palavras como, por exemplo, psiquiatria tem sido usada com caráter quase pejorativo e progressivamente se "forçando" o uso do termo "saúde mental" em seu lugar para que se possa parecer "politicamente correto".

Assim, o termo "doença mental" vem sendo insistentemente substituído por "sofrimento mental"; como se fossem sinônimos. Subjetivamente passando a idéia de que doença mental e sofrimento mental seriam a mesma coisa; ou, pior ainda, passando a idéia de que "doença mental não existe"!

O termo "manicômio" é usado propositalmente para denegrir o "hospital psiquiátrico".

Mostrou como este e outros tantos simbolismos podem evocar algo negativo ou positivo conforme como, e por quem, é usado.

Vejam o poder inferido às palavras!

Comentou sobre pesquisa realizada pela UNIFESP na população carcerária do Estado de São Paulo que encontrou índice de 12% de doentes mentais graves presos (não computados álcool e drogas); se inferirmos este percentual ao Brasil todo terá 54.000 doentes mentais graves presos.

Como hoje temos cerca de 37.000 leitos psiquiátricos do SUS no Brasil todo chegamos à conclusão que o maior "manicômio" brasileiro é a cadeia.

Dr. Valentim Gentil, traçou a história da "reforma psiquiátrica no Brasil" e concluiu: estão implementando no Brasil um projeto rejeitado pelo Congresso Nacional, a Lei 10.216 não está sendo cumprida! Informou que dos 760 milhões destinados aos cuidados extra-hospitalares, somente 252 milhões foram usados para a criação dos CAPS! Isto talvez não fosse má notícia, se tivessem empregado o restante do dinheiro em serviços e tratamentos eficientes e de qualidade o que infelizmente não foi o ocorrido.

Dr. Rubens Hirsel Bergel, médico psiquiatra, falou sobre a "Saúde Mental do Trabalhador e os Adoecimentos Causadas pelo Atual Modelo Sócio Econômico", discorreu pelas causas de adoecer do trabalhador assim como o ambiente de trabalho e as relações existentes entre as doenças ocupacionais e diversas doenças mentais.

"Depressão, Absenteísmo e qualidade de vida", foi outro tema abordado por Antonio Geraldo, suas causas, seus fatores agravantes e atenuantes; as possibilidades de tratamento e a relação direta desta doença com a qualidade de vida das pessoas.

Citou principalmente que o combate ao estigma, a educação e a informação das pessoas é que irá diminuir a demora e a relutância que as pessoas têm em se aperceberem, em se reconhecerem, doentes e procurar ajuda psiquiátrica.

Finalizando os trabalhos o Professor Valentim Gentil discorreu sobre os tratamentos possíveis para esquizofrenia e outras psicoses. Falou sobre o pouco, e mal gasto, dinheiro da saúde mental e que os governos não fazem uma relação de custo-efetividade entre os tratamentos, optando por formas com elevados custos e baixíssima efetividade, resultando na grande massa de doentes mentais nas ruas ou nas cadeias.

Perguntou aos psiquiatras e médicos presentes, uma pergunta que sempre faz a si mesmo: quando andamos na rua e vemos um doente mental em estado psicótico ou delirante e ali o deixamos, sem dar o devido socorro médico, não estaremos incorrendo em omissão de socorro?

É para se pensar doutores e senhores trabalhadores da saúde!

A Comissão científica que organizou e realizou esta "Jornada de Saúde Mental" vem se reunindo desde 27/01/2009 e foi coordenada pelo Dr. Ricardo Mendes (Diretor do SINDHOSP e do Hospital Vera Cruz de São Paulo) sendo composta por:

- Dr. Salomão Rodrigues Filho (Médico Psiquiatra - Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás).

- Dr. Paulo Henrique Ferreira Bertolucci (Departamento de Neurologia da UNIFESP).

- Professor Dr.Valentim Gentil Filho (Médico Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP - São Paulo);

- Dr. Carlos Eduardo Kerbeg Zacharias (Médico Psiquiatra, Supervisor do Serviço de Psiquiatria do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e Diretor do Centro de Estudos Psiquiátricos Vera Cruz) e

- Dr. Antônio Geraldo da Silva (Médico Psiquiatra e Presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília).

http://uniad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=804:pela-primeira-vez-o-congresso-latino-americano-de-servicos-de-saude-teve-um-modulo-de-saude-mental-em-sua-programacao-&catid=29:dependencia-quimica-noticias&Itemid=94

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